sexta-feira, 9 de setembro de 2011

CONVERSA DE GENTE GRANDE

Eu nasci pequenininho,
de um ovinho
e moro num ninho,
mas não sou passarinho.

Sou algo diferente,
eu sou gente.

Mas sou diferente de você
que me lê.

Eu não respiro
do jeito que você faz;
meu ar, de onde eu tiro?
adivinha! rapaz!

Eu nem preciso de comida
pra garantir minha vida!
mas você, se não comer,
vai morrer.

Não sinto frio,
embora peladinho;
é que o lugar onde estou
é bem quentinho.

Ainda não adivinhou
quem eu sou?

Pois vou dizer pra você,
seu bobo, sou um bebê!

Sabe onde é o ninho
que me abriga?
pergunta pra mamãe
se não é sua barriga?

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

TRILHOS


Um dia a vida apresentou,
um ao outro, nós dois;
e deixou-nos juntos,
p'ra caminhar depois.

E lá fomos nós;
formando par,
dia a dia,
sem parar.

E de acordo com que
a sociedade espera:
família, filhos;
tudo levado à vera.

Responsabilidade,
deveres por isso,
obrigações,
compromisso.

Falhas? sim!
Alguns deslizes;
mas a questão é saber
se nós dois somos felizes!

Não sei, não sei,
de verdade,
se o que sinto
é felicidade.

Você também, acredito,
questiona a vida assim:
não teria sido melhor
sem mim ?

Às vezes medito em nós;
que criamos bons filhos;
mas penso que vivemos
como acontece aos trilhos:

Linhas paralelas;
somos iguais, um par,
sempre juntos;
sem nunca nos encontrar.

O LOUCO DO SHOPPING


Estacionei o carro no parqueamento do shopping. Súbito, à minha frente, surge um homem mascarado. Eu acho graça e penso que o carnaval já começou, mas o homem retira do rosto a máscara e, com o dedo em riste, aproxima-se de mim. Com seus olhos fixos nos meus diz: - Idiota! porque vens aqui neste templo de perdição? Não enxergas para onde estás indo? maldito consumidor! O que sinto paraliza-me, não consigo me mover. Sou envolvido por um sentimento de pânico. Tento entender o que está ocorrendo. Ao redor outras pessoas riem do homem e chamam-lhe de louco. Aparece um segurança do shopping, avança para o misterioso homem, arranca-lhe a máscara da mão e, com ela,brutalmente, cobre o rosto do estranho indivíduo. As pessoas que até então riam e xingavam o homem calam-se e se dirigem para o interior do shopping. Eu, ainda abalado pelo ocorrido, tento entender a razão de tudo aquilo. O que está ocorrendo? Me aproximo do homem, agora subjugado pelo segurança, e lhe pergunto: - Quem é você? meu amigo! Ele tenta responder mas eu não consigo entender a resposta porque o segurança tapa os meus ouvidos. Em seguida o guarda me diz: -Seja bem-vindo consumidor! o shopping te espera! desculpe pelo transtorno, este louco teima em andar na contramão!

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

NÓS E NOSSOS FILHOS

Nós, os ocidentais, temos, constantemente, o hábito de pintar nossa forma de pensar e agir com "tintas românticas". E, então, às vezes, pagamos um preço por nossas atitudes, em função desta forma de enxergar a vida e agir sob a ótica dos desejos e não da realidade prática e objetiva. Veja abaixo o que diz sobre NÓS E NOSSOS FILHOS um homem oriental, o grande GIBRAN KHALIL GIBRAN, nascido no Líbano(Oriente Médio).

"Vossos filhos não são vossos filhos,
são os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E embora vivam convosco, não vos pertencem.
Podeis outorgar-lhes vosso amor,
mas não vossos pensamentos.
Porque eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
Pois suas almas moram na mansão do amanhã,
que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles,
mas não podeis fazê-los como vós,
Porque a vida não anda para trás
e não se demora com os dias passados.
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos
são arremessados como flechas vivas.
O Arqueiro mira o alvo na senda do infinito
e vos estica com toda a sua força
para que suas flechas se projetem rápido e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do Arqueiro seja vossa alegria;
Pois assim como Ele ama a flecha que voa,
ama também o arco que permanece estável."

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

JULGAMENTO

Sou um estranho no meio de vós,
e, por isso, minha boca se cala;
não entendeis uma palavra sequer
da língua que minh'alma vos fala.

Culpar a quem por isso?
talvez a mim, talvez,
as minhas falhas, fracassos,
minha origem, a pequenez.

Envelheci sem crescer,
sem fruto intelectual,
pobre na sensibilidade,
até sem estofo moral.

Enfim, no vosso tribunal sou réu.
O crime? tornar-vos infelizes;
dobro-me, pois, ao julgamento
e condenação, meritíssimos juízes!

Mas, se vós me inocentardes,
vos peço,imploro,rogo e clamo:
esquecei vossas mágoas, perdoai;
preciso de vós porque vos amo.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O FAROL

"Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém...
Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim...
E ter paciência para que a vida faça o resto..."
William Shakespeare

Iniciaram juntos o caminho. O homem ia um pouco mais à frente dos outros companheiros, dois jovens. O que ia na dianteira tinha a função de sentinela avançada; cabia-lhe a missão de garantir aos dois neófitos a segurança ao caminhar em terreno desconhecido. E durante um certo tempo foi assim. Até que os dois moços amadurecessem e se tornassem capazes de enfrentar sozinhos os obstáculos que o caminho estreito da vida oferece.
E o tempo passou; para a sentinela chegou o outono da vida, ocasião em que as forças, como as folhas, começam a cair e quando os cabelos, prenúncio do inverno que se avizinha, branqueiam-se. Contudo, a vida misteriosa revela-se providencial nestas ocasiões: se começa a tarde outonal para alguém, uma manhã primaveril se abre para quem vem em seguida. E a primavera é a época em que o vigor da existência alcança o seu máximo.
Hoje, o homem velho, na retaguarda dos dois caminhantes, observa-os seguir adiante por seus próprios meios. Capazes e determinados, construindo seus destinos. E se não lhe cabe mais a função de guarda, o velho agora, quando muito, e se preciso for, pode tornar-se um farol, até a hora em que a luz que serve de guia se apagar.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Ai de ti! Rio de Janeiro

Ai de ti! Rio de Janeiro,
rainha brilhante de outrora,
mas, pelo capricho dos deuses,
prostituta barata de agora.

Tu te lembras do fulgor
do teu histórico passado?
Quando alguém te conhecia
e se quedava encantado?

Eras conhecida e notada
por tua beleza majestosa;
foste inclusive nomeada
como cidade maravilhosa.

Mas isto foi ontem,
hoje é outra a verdade;
perdeste honra e prestígio
e foi-se toda a majestade.

Já não és mais a rainha;
o rei te abandonou, afinal;
elegeu outra em teu lugar,
lá no planalto central

Perdeste toda a dignidade,
empobreceu a tua gente,
a nobreza foi-se embora
e tu ficaste decadente.

Teus filhos, lindos, elegantes,
de pele sempre bronzeada,
perderam toda proteção;
tomam, hoje, tiro e porrada.

A corte foi-se embora,
levou toda a nobre gente;
aqui ficaram o burguesinho
e os teus pobres somente.

Hoje, maltrapilha e suja,
pedes, chorosa, por favor,
sonhando em ter de volta
gala, fausto e explendor.

Mas é tarde, desgraçada!
és refém de vendilhões,
de gente fria e asquerosa
e deslavados cafetões.

Melhor seria que tu morresses
p'ra poder nascer de novo
com novas gerações
isentas das aberrações
do teu desgraçado povo.

RXJ-2010