sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O FAROL

"Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém...
Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim...
E ter paciência para que a vida faça o resto..."
William Shakespeare

Iniciaram juntos o caminho. O homem ia um pouco mais à frente dos outros companheiros, dois jovens. O que ia na dianteira tinha a função de sentinela avançada; cabia-lhe a missão de garantir aos dois neófitos a segurança ao caminhar em terreno desconhecido. E durante um certo tempo foi assim. Até que os dois moços amadurecessem e se tornassem capazes de enfrentar sozinhos os obstáculos que o caminho estreito da vida oferece.
E o tempo passou; para a sentinela chegou o outono da vida, ocasião em que as forças, como as folhas, começam a cair e quando os cabelos, prenúncio do inverno que se avizinha, branqueiam-se. Contudo, a vida misteriosa revela-se providencial nestas ocasiões: se começa a tarde outonal para alguém, uma manhã primaveril se abre para quem vem em seguida. E a primavera é a época em que o vigor da existência alcança o seu máximo.
Hoje, o homem velho, na retaguarda dos dois caminhantes, observa-os seguir adiante por seus próprios meios. Capazes e determinados, construindo seus destinos. E se não lhe cabe mais a função de guarda, o velho agora, quando muito, e se preciso for, pode tornar-se um farol, até a hora em que a luz que serve de guia se apagar.

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