sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O FAROL

"Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém...
Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim...
E ter paciência para que a vida faça o resto..."
William Shakespeare

Iniciaram juntos o caminho. O homem ia um pouco mais à frente dos outros companheiros, dois jovens. O que ia na dianteira tinha a função de sentinela avançada; cabia-lhe a missão de garantir aos dois neófitos a segurança ao caminhar em terreno desconhecido. E durante um certo tempo foi assim. Até que os dois moços amadurecessem e se tornassem capazes de enfrentar sozinhos os obstáculos que o caminho estreito da vida oferece.
E o tempo passou; para a sentinela chegou o outono da vida, ocasião em que as forças, como as folhas, começam a cair e quando os cabelos, prenúncio do inverno que se avizinha, branqueiam-se. Contudo, a vida misteriosa revela-se providencial nestas ocasiões: se começa a tarde outonal para alguém, uma manhã primaveril se abre para quem vem em seguida. E a primavera é a época em que o vigor da existência alcança o seu máximo.
Hoje, o homem velho, na retaguarda dos dois caminhantes, observa-os seguir adiante por seus próprios meios. Capazes e determinados, construindo seus destinos. E se não lhe cabe mais a função de guarda, o velho agora, quando muito, e se preciso for, pode tornar-se um farol, até a hora em que a luz que serve de guia se apagar.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Ai de ti! Rio de Janeiro

Ai de ti! Rio de Janeiro,
rainha brilhante de outrora,
mas, pelo capricho dos deuses,
prostituta barata de agora.

Tu te lembras do fulgor
do teu histórico passado?
Quando alguém te conhecia
e se quedava encantado?

Eras conhecida e notada
por tua beleza majestosa;
foste inclusive nomeada
como cidade maravilhosa.

Mas isto foi ontem,
hoje é outra a verdade;
perdeste honra e prestígio
e foi-se toda a majestade.

Já não és mais a rainha;
o rei te abandonou, afinal;
elegeu outra em teu lugar,
lá no planalto central

Perdeste toda a dignidade,
empobreceu a tua gente,
a nobreza foi-se embora
e tu ficaste decadente.

Teus filhos, lindos, elegantes,
de pele sempre bronzeada,
perderam toda proteção;
tomam, hoje, tiro e porrada.

A corte foi-se embora,
levou toda a nobre gente;
aqui ficaram o burguesinho
e os teus pobres somente.

Hoje, maltrapilha e suja,
pedes, chorosa, por favor,
sonhando em ter de volta
gala, fausto e explendor.

Mas é tarde, desgraçada!
és refém de vendilhões,
de gente fria e asquerosa
e deslavados cafetões.

Melhor seria que tu morresses
p'ra poder nascer de novo
com novas gerações
isentas das aberrações
do teu desgraçado povo.

RXJ-2010